Você e sua mãe moraram em muitas partes do mundo e , pelo que li, se reinventaram em todas as vezes e mudanças, sempre em ambientes de trocas femininas. É isso mesmo? 

Exatamente. A minha família e eu passamos muitos anos vivendo em diferentes países. Meus pais sempre me diziam que os residentes não se adaptariam a nós, que éramos nós quem tínhamos que nos adaptar a eles. Consequentemente, acabávamos fazendo uma imersão na cultura local de acordo com a perspectiva das pessoas que exalavam toda a diversidade e autenticidade que toda cultura possui. Naturalmente, criamos um fascínio pelo o que não encontramos em nenhum outro lugar, pelo único. Isso nos ajudou a valorizar cada detalhe e expressão artística de cada lugar que vivemos. Acabamos convivendo com artistas e culturas e levamos um pouco de cada país conosco. Nos Estados Unidos, por exemplo, minha mãe aprimorou sua técnica com cursos de restauração e colorimetria com a Joy Turner, expert no assunto. 


Através dessa relação e aprendizado, minha mãe se tornou expert na técnica de Munsell, metodologia que enobreceu o seu trabalho e acabou dando a ela esta visão mais profunda sobre combinações de cores. E com essa absorção cultural que fizemos ao longo do tempo, fomos incorporando os elementos que mais ecoavam com nossa personalidade. Hoje nossa casa está decorada com lembranças dos lugares onde vivemos e que mais nos tocaram. E com toda essa inspiração nasceu a Maison Singular, uma marca composta por objetos únicos que são fruto destas peregrinações. A pérola é nosso carro-chefe e trabalhamos com esta pedra porque ela possui uma infinita gama de tamanhos e formatos, e uma variedade abrangente de cores, o que traz muita versatilidade para as nossas peças. Escolhemos as pérolas por entendermos como ela está associada à natureza feminina: elas possuem uma identidade única. Não são encontradas na natureza duas pérolas idênticas. É exatamente por isso que escolhemos a pérola, um objeto de desejo e de representação de autenticidade, para representar a mulher e sua singularidade.


Por que e como as cholitas inspiraram a criação da marca? E como essa inspiração está presente nos dias de hoje?  

A idéia da Maison Singular nasceu em 2017, com forte inspiração no artesanato das cholitas, nome dado às mulheres indígenas aymaras bolivianas. O termo se aplica de maneira contemporânea àquelas que utilizam vestimentas tradicionais e que são grandes comerciantes na cultura andina. A ideia nasceu na Bolívia porque foi um dos locais onde meus pais moravam na época. As andinas possuem uma mão de obra extremamente qualificada, são muito criativas. Elas possuem uma técnica de bordado única e durante a nossa estadia, aprendemos a técnica. 


A cultura andina nos inspirou porque elas oferecem peças com detalhes únicos e cores vivas e prezamos pela cultura local, sofisticamos as peças para atender o público brasileiro – e deu super certo. Hoje os nossos acessórios possuem a mesma técnica mas apresentamos peças com mais contemporaneidade e leveza, elementos que a mulher brasileira preza. A nossa cliente é antenada com a arte, é sofisticada e aprecia o design. Elas são mulheres que trabalham e precisam de acessórios que dêem o toque de versatilidade que elas exigem. 


Por outro lado, a inspiração da combinação de cores, o interesse pelo design e a arte vem de anos morando fora, conhecendo artistas de diversos países. Um dos países que nos inspirou muito, por exemplo, foi a Romênia, que tem um senso estético muito aguçado. Existe uma marca romena que trabalha com couros chamado Dacoma. Dan e Ion, fundadores da marca, oferecem sapatos e acessórios 100% personalizados em todos os tipos de couros que você puder imaginar. A inspiração não vem apenas das tendências. É uma mistura entre o tempo, o amor pela beleza e o fascínio por materiais exclusivos, todos unidos pelo talento excepcional do fundadores. São peças tão especiais que a família real romena concedeu a marca Dacoma o título de “Fornecedor da Família real”, premiando assim a alta qualidade de seus produtos. 

Se pudesse escolher um lugar no mundo…

Seria a Romênia – é uma surpresa. O país é berço de uma cultura milenar, que é um banho de criatividade, música e manualidades. Por ser a entrada do oriente ao ocidente, eles possuem grandes músicos e diretores. O artista Brancusi, por exemplo, é mestre do modernismo e é romeno. 


Uma mulher célebre que vestia (no passado) acessórios com muita autenticidade? 

Coco Chanel, a rainha das pérolas. 


Uma mulher contemporânea e célebre que tem tudo a ver com as peças da Maison? 

Podemos falar de duas personalidades? Costanza Pascolato meets Rooney Mara. Costanza porque ela sabe usar acessórios e transmitir uma elegância sem fim e a Rooney porque ela sempre aparece com roupas muito contemporâneas e clean. 


Uma joia icônica que sempre é referência para vocês? 

Um bom colar de pérolas porque é simples e chique. Você pode transformar ele de vários jeitos, como por exemplo, usando uma flor de pérolas, colocar o colar de pérolas com várias voltas.


Eu crio semi jóias porque...é um processo criativo estimulante e de muita expressão artística. Em cada peça estamos condensando uma gama de influências para contar a história sobre o que esse objeto será e como ele vai traduzir a originalidade da mulher. O ato de bordar nos permite estar com nós mesmas, nos encontrarmos com nossa própria história e nossas experiências para compreender como podemos transformar o acessório. Durante a construção da peça sentimos que dentro de nós começa a florescer uma infinidade de possibilidades de como este objeto pode destacar quem usá-lo. Entendemos onde podemos colocar e tirar uma pedra, onde devemos flexibilizar, ajustar, onde erramos e acertamos, como ocorre naturalmente nos diferentes momentos em que experimentamos a vida. É um eterno respirar fundo e olhar internamente para muitas vezes perceber que o que tínhamos planejado não se torna exatamente aquilo que se tinha imaginado. É nos deixar surpreender e acreditar que o objeto em construção se transformará em algo belo e único para uma mulher.