O que começou como hobby para Eduardo Leme aos 21 anos virou coisa séria quando, por volta dos 40, decidiu montar a Galeria Leme. Convidou Paulo Mendes da Rocha para projetá-la e, alguns anos depois, convidou-o novamente para projetar um novo espaço, inaugurado em 2012. 


Corta para 2022. Estamos conversando com Edu Leme numa casa onde ele morou durante 14 anos e que hoje abriga parte de seu acervo. “Um dos espaços mais radicais já produzidos pela arquitetura brasileira e mundial”, disse o professor, crítico e curador Guilherme Wisnik sobre ela, que foi projetada por Paulo Mendes da Rocha em 1970 e será o cenário do desfile que abre o próximo IT brands Moda. 


Esta casa tem muita história. Conta um pouco pra nós?

É uma casa statement, de um período em que os arquitetos e urbanistas queriam fazer projetos públicos, construir cidades, mas estavam tolidos pelo momento político. Então começaram a fazer obras privadas e os projetos do Paulo tinham um lance de ele conhecer profundamente o dono da casa – e ele era muito amigo do Fernando Milan, para quem fez este projeto originalmente. Paulo fez poucas casas e esta é uma casa referência, todos os arquitetos querem visitá-la.


Morar nela deve ter sido uma experiência diferente... 

Dei boas festas aqui e pode ser inóspita para morar, afinal é toda de concreto, sem janelas, com paredes que não sobem até o teto. Ela provoca um tipo de convívio diferente, mas eu adorava e pretendo voltar. A piscina dá pra calçada e no teto tem um laguinho com carpas. Meus filhos chegavam da escola e iam lá pescar – quando falavam na escola que brincavam com peixe no telhado, ninguém acreditava. 


E agora o IT brands vai trazer moda para este espaço, junto com arquitetura e arte... 

Moda e arte sempre andaram lado a lado, né? O MASP tem curador de moda, vários artistas já fizeram intervenções com roupas... É uma casa teatral e a ideia de fazer os desfile lá foi genial. 


É uma casa absolutamente atemporal!

Sim, você não consegue dizer se foi construída este ano, há cinco anos ou há 50, como ela realmente foi. 


E o que você nos diz sobre essa novidade que é o NFT?

Meu filho Franco, que tem 25 anos, é quem está trabalhando com isso no novo braço da galeria, a Leme NFT. Em 2021 fomos os primeiros a apresentar um acervo de arte digital em NFT. Eu não tenho autoridade para falar sobre o tema, mas parece que veio pra ficar. Para entender o NFT é preciso entender todo o comportamento de uma geração, que tem seu jeito próprio de ver as coisas. A mobilidade é um quesito importante para eles, por exemplo. E é possível levar sua coleção em NFT para todo lugar.